domingo, 30 de maio de 2010

Coisas da vida

Sexta eu fui fazer um depósito da empresa que trabalho.
A agência deles é numa área nobre de BH, então, os clientes são da classe alta.
Eu estava no caixa sendo atendido e do meu lado foi um garoto de uns 16 anos com o pai fazer um depósito.
Percebi que o pai do garoto ficava na minha frente como se estivesse escondendo alguma coisa.
Aí, ouvi o funcionário do banco que estava no caixa dizer pra ele "preciso do seu CPF, porque pela norma do BC depósito acima de 10mil precisa ser identificado com o CPF".
Daí eu deduzi o porque do pai do garoto estar escondendo alguma coisa. Afinal de contas, eu era um simples motoboy no banco de rico.
Lembrei de quando eu trabalhava de madrugada em call center e chegando o período de frio, uma noite que eu estava indo embora pra casa, vi um morador de rua sem cobertor e sem blusa deitado no chão bastante encolhido sem ter com o que tampar o frio, só com papelões de cobertor e colchão.
No outro dia, fui com uma jaqueta que tinha ganhado de presente.
Era uma jaqueta que a pessoa tinha ganhado no Moto GP da Espanha da equipe Kawasaki.
Então, só eu tinha ela aqui.
Falei no trabalho que eu ia dar ela para o morador de rua (porque lembrei dele no trabalho, não fui com intuito de dar a jaqueta pra ele) e o povo quase me bateu, falaram pra eu dar outra porque aquela ele ia vender pra usar drogas e outras coisas. Bom, mas ele precisava dormir aquela noite e estava frio, mais que na noite anterior.
Saí do trabalho e fiz o caminho de sempre, mas o morador de rua não estava lá, por alguma razão que não sei, ele não estava lá.
Fui pegar o ônibus em outro ponto pra ver se o achava mais adiante, e nada.
Fui embora e nunca mais o vi.
Passou algum tempo e sofri um acidente de moto e estava usando aquela jaqueta, ela rasgou e joguei fora.

Quem eu vou culpar pelo cara morar na rua e um guri de 16 ter 10 mil na conta?
O sistema?
Só sei que pelo menos uma vez eu não queria achar culpados, eu queria uma solução.
Esse cara ainda tá por aí, embaixo de alguma marquize, dormindo no sereno.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Lugar Nenhum

Já reparou que os "porques" da vida só ocorrem quando tudo (ou parcialmente tudo) está mal?
E que geralmente essas perguntas são feitas pra Deus (ainda que não diretamente a ele)?
Já reparou que Jesus não teve a pretensão de responder as questões mais antigas da humanidade?
Porque? Eu não sei!
"Eu não sei" as vezes pode ser a resposta mais bonita, clara e objetiva que temos.
- Mas ela não nos leva a lugar nenhum - alguém vai dizer...
Sim, eu sei!
Por isso ela é tão linda, porque nos mostra onde estamos: "lugar nenhum".
Não ficaremos aqui pra sempre, então, não precisamos saber as respostas para as questões mais extraordinárias da vida, porque não somos daqui e isso aqui não nos interessa.
Isso aqui não é "lugar nenhum".

"Se eu encontrar em mim desejos que nada neste mundo pode satisfazer, eu só posso concluir que eu não fui feito para este lugar." C.S. Lewis

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A árvore e os frutos

Ontem fui no culto de uma igreja evangélica e ouvi um chavão muito antigo:

"Só jogam pedras em árvore que dá fruto! Se estão jogando pedras em você, é porque você tem frutificado".

Nem preciso dizer que houve um reboliço por parte dos ouvintes, como se o Brasil tivesse feito o gol decisivo em uma final de Copa do Mundo.

Esse ditado é usado, entre outras finalidades, pra inflar o ego cristão nos momentos de "lutas" e "perseguições", quando o pau ta cantando - no popular - e a galera precisa de um incentivo, de uma palavra animadora.

Aí eu comecei a pensar nesse ditado e o que isso tem a ver.
Lembrei de Mateus 7, quando Jesus fala de duas árvores.
Ele dizia isso para nós sabermos identificar quem entre nós era verdadeiro e quem era falso.
Ele fala de duas árvores, uma que dá bons frutos e outra que dá frutos maus.
Simples!
A que dá bons frutos, obviamente, o cristão verdadeiro.
A que dá maus frutos, o falso profeta.

Continuei pensando...
Como sabemos determinar quando uma fruta é boa ou ruim?
Nem sempre um simples olhar ou tocar diz que uma fruta é boa ou ruim, as vezes é preciso prová-la.
Foi aí que me lembrei de uma velha fábula: A Raposa e as Uvas.

Conta a fábula (na versão de Millôr Fernandes) que uma raposa caminhava há dias com fome e avistou ao longe uma parreira de uvas que pareciam deliciosas e tentou com todos os seus esforços pegar aquelas uvas, sem sucesso, foi embora dizendo: "essas uvas estão verdes". No caminho, encontrou uma enorme pedra e arrastou com muito esforço, subiu na pedra e conseguiu apanhar um cacho e quando colocou na boca, rapidamente cuspiu. As uvas estavam mesmo verdes e azedas!
A raposa foi atraída pela bela aparência das uvas, porém, elas não eram boas para o consumo.

Pensando nisso, não vi muita lógica no dizer do pastor com aquilo que Jesus ensina.
Conhecemos uma árvore boa, pelos seus frutos bons e não pela quantidade de pedras que ela recebe!